Nestes dias de invasão das poeiras do deserto africano, que reduzem a qualidade do ar que respiramos, lembro-me de outras poeiras.
Há dez anos, o CM lançou uma petição que pedia a criminalização do enriquecimento ilícito.
Teve o apoio de mais de 50 mil portugueses e os partidos foram obrigados a ir a jogo.
Discutiu-se mais do que se fez. Funcionou a velha combinação da falta de vontade política com o tradicional ‘problema jurídico’, neste caso de constitucionalidade.
Uma poeira de grande densidade cobriu o tema. É certo que as excelentes lideranças de Joana Marques Vidal e Amadeu Guerra na PGR e no DCIAP permitiram, por outros caminhos, obter bons resultados no combate ao crime de colarinho branco.
Mas isso foi chão que deu uvas. Hoje, o crime económico tem uma coutada de impunidade.
Quando o próprio Presidente da República, na recente campanha eleitoral, dizia que o combate à corrupção não está parado, depois de Joana Marques Vidal ter saído de PGR, porque há resultados nos casos de Tancos, operação Marquês e BES, está a atirar-nos poeira espessa e persistente para os olhos, para que não vejamos o evidente: o combate à corrupção em Portugal parou. Será de vez?